Doença Falciforme: vulnerabilidade e preconceito dificultam acesso a tratamento

março 9, 2022

Se observarmos ao longo da história, a população negra tem sido a mais penalizada em diversos contextos sociais devido ao preconceito racial. Nas áreas da educação e do trabalho a discriminação é evidente. Mas é possível também perceber-se na área da saúde, principalmente no acolhimento a pacientes que sofrem da doença falciforme.

Profissionais de saúde devem estar atentos aos pacientes com DF

A Doença Falciforme é uma condição genética que, embora atinja hoje todas as raças e camadas sociais, por conta da enorme miscigenação ocorrida no País, afeta majoritariamente a população afrodescendente.1

Os profissionais de saúde estando atentos no atendimento aos pacientes de DF que procuram os serviços de saúde, podem minimizar muitas vezes o preconceito que inúmeros pacientes relatam ao ser atendidos, seja quando sua dor é ignorada ou mesmo esquecida por longas horas – e até dias – no pronto atendimento. A doença é grave, provoca intensas crises de dor e muitas vezes exige internação imediata, com risco de vida para o paciente.

 

Vulnerabilidade social e econômica podem interferir no atendimento

O preconceito e o racismo estruturado que existem na sociedade como um todo podem ter reflexos na área da saúde, que vão desde a falta de informação adequada sobre a Doença Falciforme nas escolas e universidades, até uma certa displicência no momento do atendimento, ao se minimizarem as queixas do paciente e a gravidade das crises.

Essa realidade só aumenta a vulnerabilidade da população negra, porque diminui o diálogo entre atendentes e pacientes, ampliando as barreiras de acesso ao tratamento, podendo provocar o afastamento e o descrédito dos usuários no sistema público de saúde.1

 

A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra

A definição e implantação pelo Ministério da Saúde, em maio de 2009, da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) por meio da Portaria GM/MS nº 992, veio trazer alguma esperança para os 54% de cidadãos brasileiros que se declaram negros ou pardos. Com essa Política, o Ministério da Saúde reconheceu e assumiu a necessidade de instituir mecanismos de promoção da saúde integral da população negra e de enfrentar o racismo institucional no SUS – Serviço Único de Saúde, visando superar as barreiras estruturais que incidem negativamente nos seus indicadores de saúde.2

 

O que é preciso fazer para corrigir as desigualdades

Para sensibilizar a sociedade e melhorar a qualidade do atendimento é necessário investir recursos no desenvolvimento de ações educativas junto aos profissionais e gestores de saúde, visando aprimorar os serviços à população negra e parda.3

É importante também que a sociedade continue se organizando por meio de entidades civis que congreguem as vítimas da doença falciforme e suas famílias, para que juntas possam fazer valer os seus direitos,4 entre eles o de ter acesso a novos medicamentos que podem reduzir a gravidade das crises e o número de internações, como é o caso do primeiro tratamento à base de hidroxiureia com indicação em bula e dosagem precisa e segura para pacientes a partir dos 2 anos, aprovado pela Anvisa em novembro de 2021.

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Referências:

  1. Scielo Brasil. Vivência do preconceito racial e de classe na doença falciforme. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sausoc/a/5MxwBMXyqpfXk4BMsvW8nCf/?lang=pt Acesso em fevereiro de 2022 Acesso em março de 2022.
  2. Ministério da Saúde – SUS. Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_saude_populacao_negra_3d.pdf Acesso em março de 2022.
  3. Anais do 8º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde – 2019. “Meu sonho é ter pra onde ir, ser bem acolhido e saber o que me espera lá”: Integralidade, racismo e o olhar das pessoas com doença falciforme. Disponível em: https://proceedings.science/8o-cbcshs/papers/—meu-sonho-e-ter-pra-onde-ir–ser-bem-acolhido-e-saber-o-que-me-espera-la—–integralidade–racismo-e-o-olhar-das-pes Acesso em março de 2022.
  4. RHS – Rede Humaniza SUS. A anemia falciforme é um retrato do racismo no Brasil. Disponível em: https://redehumanizasus.net/a-anemia-falciforme-e-um-retrato-do-racismo-no-brasil/ Acesso em março de 2022.

 

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