Quais os direitos do trabalhador com doença falciforme?

maio 9, 2022

Um grande contingente de trabalhadores no Brasil sofre de doença falciforme, mas poucos sabem os direitos que têm, especialmente no campo trabalhista e previdenciário. Para garantir que todos possam ter acesso às oportunidades de trabalho, exercer a sua cidadania e melhorar a qualidade de vida, é importante conhecer e divulgar esses direitos e quais são as condições que é preciso preencher para ter acesso a eles.


A doença falciforme e os aspectos previdenciários

A Doença Falciforme pode levar muitas vezes a internações prolongadas com períodos de incapacidade laboral e em alguns casos à incapacidade permanente, com aposentadoria por invalidez. Determinar a incapacidade decorrente da doença falciforme não é fácil para os peritos, que devem estar informados sobre as condições de acesso ao trabalho e tipos de atribuições laborais exigidas para determinar se existe a incapacidade, se ela é temporária ou definitiva, e se for temporária, por quanto tempo o trabalhador deve permanecer afastado.1


Os principais direitos das pessoas com Doença Falciforme2

Entre os principais direitos estão o direito ao tratamento, ao auxílio doença e à aposentadoria por invalidez. Passe livre e vagas especiais em concursos públicos não são obrigatórios e dependem de organização e pressão política dos pacientes.


Direito ao tratamento para curar da anemia falciforme

A única cura conhecida para a anemia falciforme é o transplante de medula óssea, que é coberto pelo SUS. Para realizar o procedimento é necessário que haja um doador compatível, e se ele não existir dentro da própria família é preciso esperar numa fila de transplante. São necessários a apresentação do pedido médico e a justificativa para o transplante. Caso o pedido não seja liberado, pode-se apelar à via judicial, por meio de um advogado ou defensor público.


Direito ao tratamento de saúde

Garantir o tratamento de saúde para toda a população, independente de raça, cor, sexo ou religião, é um dever do Estado previsto na Constituição, bem como o fornecimento de remédios, atendimento médico e acompanhamento. Seja pelo Município, pelo Estado ou pela União. Se não conseguir pelos meios regulares, também neste caso o cidadão pode recorrer ao Poder Judiciário.


Direito ao auxílio-doença

Este é um direito que depende do grau de evolução da doença.
Para conseguir o benefício o paciente precisa ter trabalhado com carteira assinada ou contribuído como autônomo pelo período de até 12 meses anteriores à data do pedido no INSS ou, em alguns casos, até 36 meses. Caso não preencha essas condições, aí é o caso de requerer o chamado benefício de prestação continuada, conhecido como BPC ou LOAS (veja a seguir). Para tanto, precisará passar por perícia do INSS e receber um parecer favorável do médico que fizer a avaliação.

Direito ao LOAS (BPC)

O BPC – Benefício de Prestação Continuada, ou LOAS – Lei de Organização da Assistência Social, pode ser devido aos portadores de anemia falciforme que comprovem que nem eles nem a família têm renda suficiente para se manter (menos de ¼ do salário mínimo por pessoa da família). Mesmo em alguns casos onde a renda por pessoa esteja acima desse valor, é possível entrar com um processo na Justiça Federal para obter o benefício, desde que se prove que o portador da Doença Falciforme não tem condições de se manter.


Direito à aposentadoria

A aposentadoria de uma pessoa com doença falciforme depende de uma série de fatores, já que a aposentadoria pode ser por tempo de contribuição, por idade, aposentadoria especial ou por invalidez. Cada um desses casos tem as suas regras. Por isso, para a pessoa com Doença Falciforme impossibilitada de trabalhar, o ideal é solicitar a aposentadoria por invalidez.


Aposentadoria por invalidez

Possível de se conseguir após um período em que a pessoa fique recebendo auxílio-doença e não tenha condições de retornar à sua atividade ou a outra função qualquer. Para pedir o auxílio-doença o portador de Doença Falciforme deve ter trabalhado com carteira assinada por 12 meses, em alguns casos até 36 meses, antes de entrar com o pedido no INSS. Também aqui se pode fazer um apelo judicial, caso o benefício seja negado, desde que a pessoa prove estar incapacitada para o trabalho. O acompanhamento do caso por um advogado é recomendável.


Vagas em concursos públicos

Não há lei que obrigue a reserva de vagas (cotas) nos concursos públicos federais para pessoas com Doença Falciforme. E, via de regra, os estados e municípios seguem a mesma orientação e leis da União. A avaliação de um recurso qualquer de uma pessoa com Doença Falciforme que vise entrar no serviço público por meio das vagas destinadas a portadores de deficiências, dependerá sempre da interpretação do juiz.


Direito ao passe livre

Assim como no caso das vagas em concursos públicos, o direito ao passe livre não é garantido por lei e deve ser regulamentado por cada município. Aqui o caminho para a obtenção do benefício passa, portanto, pela organização das pessoas com Doença Falciforme em entidades civis e a sua pressão política sobre o prefeito e os vereadores.

Com se vê, há benefícios já consolidadas e garantidos por lei e outros que dependem da organização dos pacientes, do apoio de entidades que os representem para conseguir alguma conquista junto aos poderes públicos e ainda dos médicos peritos responsáveis pela avaliação de cada caso. É por meio da união de todos que podemos construir um país mais justo e que cuide de quem mais precisa de atenção e cuidados de saúde.

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Referências:

  1. Brazilian Journal of Health Review. Doença Falciforme e aspectos previdenciários. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/article/view/21371/17063 Acesso em maio de 2022.
  2. Vitório Neto Advocacia. Direitos dos portadores de anemia falciforme. Disponível em https://vitorionetto.com.br/direitos-anemia-falciforme/ Acesso em maio de 2022.

Comentários 2

  1. Aline abril 15, 2023 em 1:29 am - Responder

    Muito boa a postagem! Bastante elucidativa.

  2. Leonor Mathias setembro 1, 2023 em 4:59 pm - Responder

    Sou portadora da anemia falciforme mais de seis meses que está na mão do advogado e até agora não tive resposta é normal demorar assim

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